21.7.13

Diário de Bordos - Cidade do Panamá, Panamá, 21-07-2013

Não sou dado a patriotismos - parafraseando, um país é uma embarcação no meio do mar - e de sapatos percebo muito pouco. Apesar disso verifico (quando raio de carga de água constatar deixará de ser um galicismo? Ao fim de quantos anos ganha uma pobre palavra imigrante direito de cidadania? É tão útil, constatar) que os sapatos Land Rover recente e muito rapidamente comprados na Cidade do Panamá são infinitamente menos resistentes do que os sapatos Foreva que uma senhora amante de histórias de detectives me ofereceu há alguns anos em Lisboa.

Os Foreva duraram-me dois anos, ou mais, de uso quase quotidiano; quase, é certo.  Ao fim desses anos todos estavam quase como novos. Quase. Estes têm um mês se tanto e já estão com um aspecto um bocadinho a cair para o usado. Daqui a seis meses estarão, aposto, inutilizáveis. Onde poderei comprar sapatos Foreva no Panamá? Ou encontrar uma senhora para insistir comigo que os meus sapatos estão velhos (acusação infundada que foi frequentemente feita aos meus queridos Foreva)?

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Algumas bebidas não têm plural. Whisky, por exemplo. Uma pessoa bebe whisky, não bebe whiskies. Com o rum passa-se a mesma coisa, descobri hoje. Um gajo bebe mojito, ti'punch, ou rum tout court. Mas não mojitos, ti'punches (que horror) ou runs on the rocks - ou nas rocas, como aqui dizem, seria terrível se não fosse cómico -.

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A cidade do Panamá é apaixonante, intrigante mas não convincente. Estou ansioso por me ver daqui para fora. Tanto mais que me espera o Canal, de braços abertos parece-me cada vez que o vejo (são muitas as vezes que o vejo, estou numa bóia à saída dele).

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Não falo do refit; não gosto de maçar as pessoas com pesadelos.

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"A pátria é um acampamento no deserto", diz o provérbio árabe citado por Cioran que ali em cima parafraseio. Para mim, pátria é uma embarcação no mar, o porto que me acolhe, o corpo que me apazigua. Estes são poucos, cada vez menos: entro na monogamia pela agamia. Talvez o jejum seja uma etapa necessária. Nunca pensei é que fosse tão fácil, tão leve, quase agradável. Quase.

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Um gajo sabe que está a beber de mais quando o segundo Mojito no Rana Dorada custa a passar.

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