28.4.15

Diário de Bordos - Red Frog Marina, Bocas del Toro, Panamá, 28-04-2015 / II

Reintegro-me em Bocas como se nunca de cá tivesse saído. Sensação estranha: tão pouco que gostava disto e  tanto gosto agora; e ver que muito mais gente me conhece do que eu pensava, eu que estava sempre de fora, sempre ao lado, sempre "não sou daqui, amanhã vou-me embora".

Fui, voltei; e quase poderia ficar, agora que sou capaz de apreciar finalmente a beleza do local, a qualidade das pessoas que por aqui escolhem viver (ou parte delas, mas isso é outra história) e, sobretudo, as qualidades daqueles que aqui nasceram.

Há qualquer coisa de grandioso nesta independência altaneira, nesta indiferença que ao princípio parece simples má-educação e não é, só. É mesmo principalmente indiferença.

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A tripulação do W. acomoda-se, encontra-se como peças num saco que alguém agita. G. é esplêndida a trabalhar madeira, C. gosta de lavar a loiça, P. é bricoleur, A. curioso e interessado por tudo (menos pelas fontes de caracteres. Estava a ler um livro sobre elas e achou-o aborrecido; eu estou fascinado).

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Hoje decidi que largamos quinta, irrevogavelmente. Claro que acreditar nisto faz um gajo sentir-se um bocadinho Portas, coisa que de todo não sou. Sei perfeitamente que a minha decisão não é decisão nenhuma, é bravata. Só acredita quem quer.

Mas enfim, a ideia é essa: largar daqui quinta-feira, ir a Almirante buscar a jangada, comprar mantimentos e combustível e sair ao fim do dia.

Vale o que vale, claro. Ainda nem sequer tenho a garantia de que a jangada já terá chegado (uma regra base da vida no Panamá é que só acreditamos no que temos perante os olhos, e isto depois de limpar muito bem os óculos).

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