4.3.16

Diário de Bordos - Funchal, Madeira, 05-03-2016

Cafés pedantes há-os em todo o lado. Este onde agora estou não difere dos outros: música horrível, decoração a condizer, símbolo "wi-fi" à porta, visível e "moderno".

O vinho é horroroso, a wifi lenta, da música não volto a falar, a iluminação execrável.

Verdade seja dita: para fazer o que tenho de fazer (escrever disparates e publicar outros já escritos) está mais ou menos em consonância. A música não é pior do que uma frase minha, coisa que aliás seria difícil; a clientela pouco difere (apesar de mais bonita) e do resto "on s'en fout.

On n'est pas d'ici. Demain on s'en va".

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É um prazer voltar ao Funchal. Há uma nonchalance nesta cidade que todas as outras deviam invejar. Ou emular, melhor ainda.

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No mar:

Doze nós de vento pelo través e o SB entra em modo voo. Cinquenta e três milhas em seis horas. [Duzentas e duas foi a conta das vinte e quatro].

Lua em quarto minguante, mar de senhoras. Um bocadinho de frio, claro. Mas nada que umas camadas de roupa não resolvam.

E o mar. Não sei como explicar. Alguém se lembra do líquido amniótico? É parecido sem ser igual e igual sem ter nada que se pareça.

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"Quem não sabe beber vinho bebe mijo", dizia o meu Pai quando eu chegava a casa visivelmente grosso. Estragou-me bebedeiras durante quase trinta anos, mas quanta razão tinha. Embebedamo-nos para nós e não para que os outros vejam que estamos bêbedos.

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Os homens magoados deviam aprender a viver sem magoar os outros. É impossível, eu sei. Que graça teria estar magoado sozinho? Seria como estar apaixonado e não ter uma namorada.

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Se eu fosse Nietzsche escreveria um livro ao qual daria o título de Genealogia do Mau Gosto. Infelizmente não sou. Ele preferiu escavar a moral.

Percebo-o? Não sei. Balanço entre a moral e a estética como um mastro entre duas vagas.

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