14.12.16

Diário de Bordos - Riviera Beach Marina, Flórida, EUA, 13-12-2016

A noite está muito calma. Lua Cheia, sem vento. Na marina dois barcos têm iluminação de Natal mastros acima. Acho um bocadinho pateta: o Natal é festa de terráqueos, não de marinheiros. Enfim, que se lixe. O problema é deles, se bem quem vê as luzes sejamos nós, todos os outros. São um bocadinho foleiras mas só as vejo durante os cinquenta metros de pontão entre o F.C. e o W. Uma vez cá dentro não vejo nada.

Oiço apenas a interminável lengalenga entre o W. e o cais. Tenho os cabos com pouca folga e deve haver corrente. Falam decerto um com um outro a dizer "espera, agora subo eu. Desce. Sobe. Vou um bocadinho avante. Deixa-te estar onde estás. Isto está a apertar de mais. Não. Deixa. Gosto assim".

Qualquer coisa do género. Um barco não faz barulho. Conversa com quem tem para o ouvir. Não me meto na conversa. Se os quisesse calar encharcaria o través de popa - é ele que está a papaguear - em detergente para a loiça, mas não quero. Desapetece-me.

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O jantar foi garoupa cozida. Estava boa.  Usei um vinagre de cidra orgânico que estava a bordo há não sei quanto tempo e estragou-me a primeira parte. O azeite tão pouco era grande coisa. Depois mudei para o Oliveira da Serra comprado no Seabra e as coisas melhoraram. Azeite orgânico, cinco estrelas, gourmet.

Os armadores percebem tanto de azeite e vinagre como de barcos, coitados.

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Quinta-feira vou para Lisboa. Não sei quanto tempo fico. O mais provável é não voltar. Estou um bocadinho farto destes gajos, mas por enquanto é só um bocadinho. Ainda não é muito. E provável que não volte. Estou um bocadinho farto destes gajos. Não muito, ainda, só um bocadinho. E prometi-lhes que os ajudava. E a mim que levava isto até ao fim.

Parece a conversa do W. com o cais.

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