1.12.16

Confrangimentos e sem frangimentos

Há uns anos tinha uma série de posts nos quais brincava com algumas das minhas obsessões: o excesso de duches, a insuficiência de lavagem de dentes, o engraxar dos sapatos (sim, houve tempos em que andava com sapatos de engraxar), as gravatas (ditto).

Os posts eram mais ou menos assim (só encontrei este, mas há muitos mais):


Normas básicas de higiene

Aquando do douche trimestral não se deve esquecer, nunca, de se ensaboar bem a parte de trás dos pavilhões auriculares. Aliás, já o meu irmão mais velho dizia, sempre disse: "só há dois sítios que não te deves esquecer de ensaboar, nunca: o outro é a parte de trás dos pavilhões auriculares" (quando eu lhe retorquia que isso totalizava quatro sítios a ensaboar e não dois ele fazia um gesto largo com a mão - que muitas vezes encontrava, infelizmente, a minha cara no caminho - e perguntava teatralmente "que importa?". Deve ser daí que vem a pouca atenção que atribuo aos pormenores).

Ensaboar a parte de trás dos pavilhões auriculares é uma operação delicada que exige algum treino - a menos, claro, que a pessoa não se importe de misturar champô com sabonete; atitude essa que eu condeno, absolutamente: para além de ser uma espécie de pleonasmo emulsivo, indiciador sem dúvida de uma histeria latente, o sabonete pode, em alguns casos bem ilustrados pelo saudoso prof. Pfeiffer (sim: bisavô da Michelle) anular o efeito do champô -.

Dado que o regime de 4 douches por ano não fornece uma base prática suficiente para se treinar, sugiro aos meus digníssimos leitores que treinem os movimentos a seco duas ou três vezes antes de entrar na banheira. Em seis meses (ou dois douches) terão adquirido a capacidade básica para executar correctamente esta fundamental operação. Também se pode praticar em macacos, claro: aliás, até combina muito bem com o pentear dos bichos. Infelizmente esta prática está limitada aos guardiães de jardim zoológico e (de certa forma) a quem cuide de adolescentes, políticos, parlamentares e pessoas desocupadas.

Tenho uma extensa prática de douches (posso garantir que já tomei mais de uma centena, ao longo de toda a minha vida - se incluirmos os da infância, claro - ) e domino relativamente bem a técnica de ensaboamento da parte de trás dos pavilhões auriculares; contudo, como a minha aprendizagem foi empírica tenho uma certa dificuldade em transmiti-la. Sugiro se adopte o método físico mas eficaz do meu irmão mais velho, que Deus tenha e guarde com Ele bem guardado.

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Acreditem se quiserem, mas a um desses posts (não foi este, mas o tom era o mesmo) uma leitora reagiu no primeiro grau: acreditou que eu realmente só tomava quatro duches por ano (apresso-me a esclarecer os leitores - e sobretudo as leitoras - que não é verdade. Tomo pelo menos cinco, alguns anos até seis).

Orgulhosa, segura do seu valor de guardiã da higiene pública linkou o post (era na época pré-FB); poucos dias depois tinha uma série de comentários e trocas de mail que iam do furioso ("seu porco, não tem vergonha?") ao altruísta ("Luís Serpa, você devia lavar-se mais vezes, um duche de três em três meses pode trazer-lhe complicações para a saúde").

É confrangedor, não é? É.

Adenda: editei ligeiramente o post inicial.

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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.