5.12.17

Releituras e farrapos - II

Por falar nisso: alguém se lembra de Althusser (refiro-me à ideologia, não ao assassínio)? Os PC detestavam-no, mas isso não significa que estivesse certo, claro. Em Genebra vivi umas semanas em casa de um althusseriano cuja teoria foi levada aos limites: "Como é que um imigrante ilegal como tu, explorado, vítima de um sistema pode ser de direita?"

"Vai rever a tua teoria da interdependência da base e da superstructura. Talvez não seja correcta. Além de que não sou vítima de nada nem de ninguém, com a possível excepção de mim mesmo". Passei a ser considerado - amigavelmente - um traidor da classe operária (o que eu não era. Trabalhava nos serviços). O senhor seria um dia professor universitário (sociologia, naturalmente), com nome feito na praça. Na altura era assistente. Um dia perguntei-lhe "Tu não devias ser de direita?" e ele escandalizou-se. Amigavelmente, claro. Éramos amigos e em casa dele reencontrei a senhora que anos mais tarde seria minha mulher.

Hoje lêem Zizek e Raquel Varela, coitados. E vão ao Tinder.

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