18.2.19

Concorrência

- A mulher colonizou-me a memória, percebes? Monopolizou-a. Não há espaço para mais nenhuma. Deixou-me há cinco anos e ainda hoje quando fodo é ela que fodo. - Silêncio. Silêncio. Silêncio.

António é padre e usa-me como confessor, incluindo a gestão dos silêncios. Ao fim de uma longa pausa continua.

- Não te choca que eu vá para a cama com mulheres, eu sei. Sabes que por vezes tenho crises de consciência avassaladoras. Mas estes últimos anos têm sido terríveis.  Sinto-me como se estivesse a enganar a ela e a Deus.

Silêncio. Silêncio. Silêncio.

- Antes de a conhecer não tinha muitos problemas com o sexo. Sempre fui contra o celibato dos padres e sempre quis ser padre. Deixei de confessar as fodas que dava, tão pouco me pareciam pecado.

- Não era dela que tu dizias que concorria com Deus?

Silêncio. Silêncio. Silêncio.

- Sim, mas estava enganado. É Deus que concorre com ela.

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