19.3.19

Amanhã (provavelmente a palavra mais justa num diário)

Isto vai a ver-se, um gajo percorre o mundo de A a Z e descobre que o mundo está em M,, de Mértola. Descoberta que nada tem de estranho a quem percorreu o dito globo, claro: o mundo é o que queremos que seja, onde o queremos.

Procuro uma citação de Beckett para a) me confortar nesta ideia e b) exprimi-la correctamente. Há pouco tempo comprei uma edição trilingue de Mal Vu Mal Dit. A versão portuguesa é de um senhor chamado Rui qualquer coisa e devia chamar-se só Mal Traduzido. Esta mania que os tradutores portugueses têm de se subsituir ao autor é confrangedora, mas neste caso a inépcia é visível logo desde o prefácio. Nunca vi coisa mais pedante, mais redundante, cassante. Felizmente bebo um Cabriz e oiço os Carmina Burana de Clemencic: não há melhor antídoto para um balão de ar quente do que um par de pés na terra húmida e de repente a necessidade de citar desaparece.  Apesar disso: "Absence meilleur des biens et cependant. Illumination donc repartir cette fois pour toujours et au retour plus trace. ... Et si par malheur encore repartir pour toujours encore. ... Au lieu de s'acharner sur place. ... Encore faut-il pouvoir. Pouvoir s'arracher aux traces. De l'illusion."

Hora de cama: os  cânticos da liturgia eslava dos monges de Chevretogne substituem os bêbedos anteriores, eu deixo o sono entrar pouco a pouco, educadamente, pé ante pé e pergunto-me se estas linhas não estariam melhor no lixo. Amanhã saberei.

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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.