10.5.19

Diário de Bordos - Palma, Mallorca, Baleares, Espanha, 10-05-2019

Onde começa um dia? Quando acaba: quando deixou de ser dia, quando deixou de ser trabalho? Não sei e pouco me interessa. Hoje começa pelo fim, pelo 7 Machos, que tem a melhor Tequila e os melhores nachos a leste do Pecos - e a dona mais bonita, aposto -. Foi lá que perdi o Ch., que já mal podia andar. Lembrou-me uma vez que levei um gajo a Setúbal de táxi. É uma história triste e não a vou contar aqui.

Antes dos 7 Machos estivemos num sítio absolutamente magnífico chamado Art Mobles i Vins, em maiorquino. É uma espécie de tangente do kitsch e da arte, mas isto tem muito que se lhe diga. Tomei bastantes notas. Com um pouco de sorte amanhã ainda estão legíveis.

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O lado feio da vida é o kitsch. O lado bonito do kitsch é a vida. Estão demasiado entrelaçados, eu sei.

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Há um ponto nevrálgico no qual a arte e o kitsch se encontram, Quem se ri de um não percebe o outro: a arte e o kitsch tocam-se no mesmo ponto em que a vida toca o belo e o feio toca a vida,

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Toda a gente sabe que o melhor cocktail do mundo se chama Painkiller. A seguir vem o Gin Tonic, que refresca e engrossa simultaneamente.

O Alexander do Procópio está obviamente fora de competição, como os filmes em Cannes e a Jacqueline Bisset.

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Se fosse preciso escolher entre comer e beber de mais escolheria sem dévida beber de mais. Comer muito é feio, é um desperdício interiorizado. Pelo contrário, beber muito é a utilização nobre dos recursos postos à nossa disposição para fazer do mundo um lugar suportável.

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Das quatro pessoas ao balcão, três estão agarradas ao telefone. Sobro eu, agarrado ao tinnitus, à vontade de te ver, ao saber que essa vontade é fútil, vã e infantil. Estéril. Agarro-me a quê, então?

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Kitsch? Arte no primeiro grau? As pessoas aqui já viveram mais do que metade da prisão, metade do convento, metado do hospital e metade do hospício viveram e não passam de uma dúzia de gatos pingados e velhos. A idade média do sítio não deve andar muito longe dos setenta anos, se excluirmos os empregados e a cantora, uma mulata linda, prova viva de que os racistas não só não percebem nada como ainda são punidos, coitados.

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Palma é um carnaval permanente: aldeia disfarçada de cidade grande, cidade grande disfarçada de aldeia.

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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.