25.9.19

Diário de Bordos - Sevilla, Andaluzia, Espanha, 25-09-2019

É preciso começar por dizer. É sempre preciso começar. E dizer, sempre. Avisar: quando falo de Sevilha falo do único bairro que conheço, a Macarena. Conheço é um exagero: é como se espreitasse pelo buraco da fechadura uma senhora a tomar banho e dissesse que a conheço.

Deambulo pelo bairro da Macarena e hoje fui ficando - é o tempo adequado mas devia haver um super-gerúndio, um gerúndio extra-longo como aqueles cigarros, um gerúndio sem fim - num restaurante chamado Quilombo, Peris Mancheta 6, fui ficando e nunca mais deixo de ficar.

Não sei se danço pior do que turisto ou se sou ainda pior turista que dançarino. Não sei. Pode talvez afirmar-se sem grande receio de errar que sou igualmente mau nos dois. Ainda não fui àquele palácio circular com barquinhos a remos à frente. Lembro-me de Paris: só vi a torre Eiffel para aí à nona vez que a atravessei: decidi ir de autocarro de uma estação de caminhos de ferro para outra, em vez do metro que até àquele dia utilizara. Não sou um bom turista (mas aquando de uma visita em família fui lá acima e tudo). As coisas devem ver-se quando precisam de ser vistas. Antes disso estamos a fazê-las perder tempo.

Bom, está dito: de Sevilha só conheço o bairro da Macarena e mesmo assim mal. É um conhecimento absurdamente insuficiente, excepto para uma coisa: ter a certeza de que os meus dias em Palma estão a chegar ao fim. O P. que se atreva a fazer-me ficar lá mais tempo do que o necessário e vai ver. Levo-o a reboque para a China, ou para a Sibéria.

Há em Sevilha (isto é, na Macarena) aquela mistura de bom gosto e negligência, de história e de indiferença ao tempo, de beleza, decadência e sageza que é para mim a definição de Mediterrâneo.

Talvez se pudesse dizer "definição de vida", mas nesse caso seria preciso acrescentar "bem vivida", "vivida como deve ser" ou coisa que o valha.

Há em Sevilha esta indiferença pelo tempo (ainda não foste ver o Palácio? E eu ralada. Hei-de apanhar-te cá e duas vezes mais do que uma), charme supremo da idade: já se viu mais do que se há-de ver e o que já se viu chega e sobra.

Por agora, recomendo o café Quilombo. Provavelmente daqui a pouco recomendarei outro. E outro. E outro. Todos.

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El Rincon de Rosita, C/Béquer, 9.
Bar Arco e Bar Esperanza, C/S. Luis 138 e 140, respectivamente. 

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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.