12.10.19

Meigas, esfera celeste, eco e outras coisas surpreendentes

Placas tectónicas celestiais empurradas - ou puxadas? - por meigas. Ou seja, estamos na Galícia. Duvido: nem as placas, nem o céu nem as meigas têm fronteiras. Estão em todo o lado, estamos em todo o lado: não há palavra mais bonita do que meigas em galego, seja qual for o mundo em que a oiçamos. A esfera celeste acolhe forças subterrâneas, submarinas, sublunares. Subcelestiais.  Talvez aí resida a explicação: uma pele submarina, um olhar sublunar. Resta saber se a Lua estava cheia nesse dia. Ninguém sabe.

Recomecemos: sabemos o que temos: meigas, forças tsunâmicas, placas tectónicas, um céu que desconhece o seu papel nisto tudo. Temos palavras e um alvo para elas. Sabem para onde vão, sabem o que querem. Uma revoada de palavras disparadas não se sabe por quem voam céleres na mesma direcção, rumo a um alvo que as escolheu e lhes disse: "Sou eu".

"Sou eu". Duas palavras cujo eco é "és tu". Sem essa resposta são incompreensíveis. Será que todas as palavras precisam de um eco para ser inteligíveis? Qual a resposta correcta a "Amo-te", por exemplo? Imagina: estás numa gruta enorme, vazia. Alguém diz:

- Sou eu.
- És tu.
- Amo-te.

Que se segue?

Aqui entram as meigas, discretamente. Ninguém as vê, ouve ou sequer sente excepto os dois dialogantes, a palavra e o seu eco. (Para que isto funcione é preciso imaginar - aceitar - que a esfera celeste não passa do tecto de uma gruta pintado com imagens em movimento de estrelas, planetas, cometas, nuvens, revoadas de flechas, palavras.)

Faltam as placas tectónicas, a lua cheia, Faltas tu, com as flechas e as palavras no regaço.

Faltas tu: que somos? O eco um do outro, a palavra um do outro.

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