26.11.19

Diário de Bordos - Lisboa, 26-02-2019

Afluentes do Tejo procuram o Bugio. O nevoeiro cola-se às águas negras do rio como os lábios de um casal de adolescentes: mexem-se, mas não se separam. Não o encontram, claro. O Bugio não é para afluentes. Félix lê poesia. Parece uma sopa fria, um caldo-verde com demasiada batata e pouca couve, uma sopa de tomate sem cebola refogada, um frasco de mayonnese peganhenta que se entornou na toalha. Oiço-o distraidamente, enquanto penso na cor dos botões da camisa que amanhã vou deixar na D. Ofélia ou na quantidade de palhinhas necessárias para beber os mojitos que bebi no pub Red Frog da cidade de Panamá. Decido que é tempo de beber mais um Bailey's, esquecer os broches da miúda do Burundi (nunca os esquecerei), pensar no alemão que viveu com ela sete ou oito anos e se pôs a cavar quando os problemas começaram. Provavelmente regressou à Alemanha para reclamar contra o imperialismo, o neocolonialismo ou mesmo - vá saber-se - a filha da putice dos ocidentais em África.

Pensas demasiado no passado, penso. A  verdade é que foi por causa de o alemão ter fugido que hoje encontras um refúgio à poesia dos Félix todos, são para aí dois ou três. Bebo 1,33 Bailey's por cada sopa mal parida e recordo os 1,83 chás do Murphy. Aprendi que caldo-verde leva hífen, abençoado seja o M.

Amanhã almoço com a I. e volto para Palma. Se isto não é um dia, não sei um que um dia é. 

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