22.5.20

Conselho: não dês de beber à raiva

Não é  - infelizmente - garantido que hoje consiga embebedar-me a sério,  apesar de querer muito.

Não. Ao contrário: é pouco provável que hoje queira embebedar-me muito, apesar de ser o que devia fazer.

Não. "Não te embebedes por raiva", diz-me a idiota que vive comigo e se chama Vida (alcunha: Experiência). "Não dissolvas a raiva em álcool, o cocktail sai amargo. Dissolve a alegria, as boas emoções, os "vastos sentimentos". Não dês de beber à raiva. Ela não saberá apreciar. A raiva é um touro cego a quem alguém deu um pontapé nos tomates.

Amacia-a. Dá-lhe croquetas de sépia, dá-lhe uma praça bonita, dá-lhe mulheres lindas a ver e outras a lembrar, dá-lhe a consciência deste fim de tarde cálido e doce. Transfere a raiva para a desobediência, para a vasta arena da liberdade que nunca ninguém te invadirá, para o azul tímido do céu de hoje, escondido num véu de cirrus.

Manda a raiva foder-se, não a deixes foder-te ela a ti. Nem um bico sabe fazer, usa os dentes e morde-te a pila. Deixa-a num canto e vem antes para a cama comigo."

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