2.10.20

Eterno infinito (da série Poemas para Rute)

Foi assim que acidentalmente nos cruzámos, tu saída de um cometa, eu de uma estrela cadente, à esquina de um quadro de Hopper. Qual teria sido, lembras-te? O do bar à noite, numa esquina? Provavelmente. Ambos pensámos que era aquele o nosso lugar, só depois descobrimos que o nosso lugar éramos nós, tu o meu e eu o teu. O bar fechou, fomos para aquele quarto de hotel no qual tu, sentada na beira da cama, olhas pela janela e esperas que eu me despache com a barba para sairmos os dois, ombro contra ombro, rumo a outro café. Onde foi? Perto daquele farol, não foi? Duas personagens de Hopper fugidas dos seus quadros e de dois astros de passagem.

Infelizmente iam em direcções opostas e depois daquela noite não houve outra. Só palavras, são elas que agora fazem de ombros, de mãos, de olhos, de ti e de mim. Um amor de palavras, palavras de amor, amor com palavra, dou-te a minha palavra, dou-te o meu amor e recebo de bom grado o teu silêncio, a estrela cadente caiu, o cometa foi-se, que ficou de nós se não estas palavras que te dou, este silêncio que me dás, esta luz que na escuridão os astros deixaram, deixam, nos prendem a eles e a nós, eu a ti e tu a mim? Que ficou de nós, se não o infinito, o eterno?

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