26.11.20

Panem et circenses

Morreu um futebolista qualquer. Enfim, qualquer não era decerto, pois até o senhor lhe conhecia o nome. Chamava-se Maradona. Parece que jogava muito bem. As sociedades sempre precisaram de heróis que não as pusessem em causa. Entretenimento puro, simples, directo, leve. Dar uns pontapés numa bola não ameaça ninguèm, não põe uma sociedade em causa - antes pelo contrário. Serve de escapatória, como as faixas para camiões nas descidas das autoestradas; com a diferença de que estas raramente são usadas e o futebol é todos os dias, pelo menos a julgar pelas televisões nos cafés. 

Na Roma antiga estes heróis eram os gladiadores. O senhor detesta violência - ainda hoje é incapaz de ver meio minuto de boxe - mas pergunta-se se não terá mais valor arriscar a vida para manter de pé a organização social. Meter uma bola numa baliza está a léguas de enfiar uma espada num corpo - ou arriscar-se a levar com uma.

Talvez seja a isso que se chama civilização: adoucissement des moeurs. Houve progresso? O senhor não sabe. Os princípios são os mesmos, o que mudou foram os recipientes.

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