8.2.21

Diário de Bordos - Lisboa, 08-02-2021

O dia termina. Afasta-se aos saltos, cambalhotas, abre os braços e as pernas como os miúdos na praia. Foi bom: trabalho, almoço com uma pessoa querida, trabalho outra vez. Na sala, toca o Peer Gynt. Be thyself. Está contente, o dia. É assim que gosto de os ver.

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Descubro com prazer uma vantagem destas casas frias: entrar na cama, tapar-me até ao queixo e deixar entrar o calor. Vem devagar: começa pelo meio, vai subindo e descendo. Deixa os pés para o fim, sempre. É muito terno, muito carinhoso, como se gostasse de mim. Retribuo-lhe, claro. Acolho-o hospitaleiramente, deixo-o passear-se por mim à vontade, tento retê-lo (consigo sempre). Todas as noites é o mesmo ritual de acasalamento,  o calor e eu, até que a manhã nos separa.

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Esta coisa de as ideias que tive há trinta anos estarem a correr atrás e mim e a voltar-me ao regaço provoca-me uma cascata de emoções contraditórias. Felizmente só guardo as boas. Não sou de ressentimentos. Nunca fui, não ia começar agora. Seria correr contra a história, não é? É. 

O tempo é como a banca nos jogos dos casinos: finge que nos deixa ganhar, mas no fim do dia ganha sempre. 

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Adenda - mais uma boa notícia a juntar às cambalhotas do dia: o Avenida lá se vai vendendo. Devagar, mas vai. Hallelujah. Allah u'Aqbar.

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