13.2.22

O eterno, indestrutível talvez

É preciso começar por dizer a verdade: não conheço muitas abadias, nem muitos coros de monges e de ordens sei aquilo que me ficou de algumas leituras há meia dezena de decénios.

O mesmo se passa com a música e talvez por isso me fixe a duas ou três coisas, dois ou três refúgios. Apresso-me a esclarecer que a atitude é a mesma em tudo  ou quase tudo, desde o rum às mulheres, da poesia ao vinho, das bicicletas às cidades, da literatura ao café. 

(Não tem nada a ver com a falta de curiosidade. Isso fica para outro dia.)

É verdade: agarro-me ao que conheço, ao que me recebe de braços apertados, ao que sabe fazer perdurar o meu amor mesmo depois de ele se sedimentar em memória.

Por isso amo ainda algumas mulheres cujo nome mal recordo, por isso sou fiel ao rum Mount Gay ou ao El Dorado 15 anos (entre outros), por isso continuo a pensar que Beckett, Borges, Yourcenar, Garcia Márquez formam um quadrado quase impenetrável. E por isso revisito regularmente os cantos da liturgia eslava pelos monges de Chevretogne, as Vésperas de Rachamaninov por Paul Hilliez ou a música sagrada (e sacra, claro) de Hildegarde Von Bingen.

Hoje calhou escolher os monges de Chevretogne. Acredito que haja melhor ou pelo menos tão bom  outros coros, noutras abadias. Não duvido disso nem um segundo.

Duvido é que valha a pena perder muitos segundos a procurar. É como pensar que há uma mulher melhor do que aquela que nos ama e nós amamos. Talvez haja, mas esse talvez é daqueles que não merece, não precisa, não deve ser destruído. 

Deve ser um talvez eterno.

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