8.7.22

Diário de Bordos - Almerimar, Andaluzia, Espanha, 08-07-2022

Almerimar é uma marina de que um dos objectivos é fazer Vilamoura passar por um lugar sofisticado. Quando penso que há pessoas que pagam para vir aqui de férias a minha já reduzida fé no género humano encolhe ainda mais. Note-se: pensei o mesmo em Aguadulce, aqui ao lado. É porém forçoso reconhecer que isto é pior. Ando demasiado cansado para procurar sítios para comer. Hoje jantei numa esplanada cujo menu tenta reproduzir o dos pubs ingleses. Consegue, brilhantemente. A única diferença está nos preços: em Londres teria pago o triplo pelo ersatz de caril de Madras e pelas imperiais. O aspecto do proprietário - entre o horrível e o escabroso - seria idêntico e a empregada tão bonita como esta.

A certa altura do jantar perdi a noção de onde estava. Felizmente recuperei-a depressa. Deve ser influência do GPS do S. R., que por vezes também se esvai. Perde o sinal, diz. Ao princípio ainda me excitava um bocadinho, mas agora não: se perdeu o sinal, que o reencontre. Limito-me a reajustar o piloto e a esperar. Não tarda estamos sinalizados, ele e eu. No tal restaurante / pub inglês / tasca merdosa de hoje fiz a mesma coisa: esperei que a memória voltasse. Foi rápido: estás em Almerimar, o motor foi reparado (não era do motor, mas já lá vamos) e amanhã de manhã cedo largas para Banús, à noite apanhas um avião para Palma e segunda começas um charter. Mal esse serviço termine voltas para Málaga e vais navegar três semanas com dois senhores ingleses que precisam de um coach. (Repito isto para interiorizar a agenda que aí vem. Auto-informação, se quiserem.)

O motor de estibordo hoje resolveu pregar-me uma partida e não arrancou. É preciso dizer que até agora tudo tem corrido de uma forma extremamente pouco habitual: com a excepção dos apagões do GPS e do plástico na admissão de água de refrigeração do motor de bombordo não tenho tido o mais pequeno, minúsculo problema ou sintoma de. O que tão pouco é de espantar, de resto: os motores têm sessenta horas cada.

Quando se recusou a pegar, a minha primeira reacção foi pensar «pois, isto tem corrido bem de mais e agora pagas.» No fim, quem pagou foi o armador, não fui eu: o mecânico da Volvo - que não é mecânico, é engenheiro, fez questão de precisar - resolveu o assunto num par de horas: a bateria daquele motor está morta. Morreu jovem, coitada. Vou assim até Banús. O J. tem pessoal que chegue para tratar daquilo e muito mais.

Ou seja, se a Ryanair não anular o voo, amanhã está tudo bem no melhor dos mundos. (Por princípio não voo Ryanair, mas abro excepções. Esta justifica-se em cheio.)

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Encontrei um sítio porreiro para escrever: uma geladaria chamada Tentaciones, decorada ao estilo dos equivalentes norte-americanos e com música a condizer. Tem a enorme vantagem de estar vazia e de ter um café muito decentíssimo. Boa maneira de dizer adeus ao dia, não é?

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