11.11.23

Manuel Gusmão

À velocidade da luz


Há uma rotação do teu corpo –

Andas pela casa: és um leve rumor sob o silêncio 

um rumor que alumia a sombra silenciosa; 

na sala, o homem quase surdo quase cego 

ouve-te, julga reconhecer-te: vens aí.

Estás aqui. O intervalo de tempo já começou: 

há uma rotação no teu corpo 

que me exclui do mundo e 

entretanto é feita para mim; atinge-me 

à velocidade da luz.

E eu o homem quase surdo quase cego

sou tomado pelo vento do fogo que me consome 

até ser apenas a última brasa: pequenas ravinas de luz 

o incêndio restante sob a exausta crosta da terra

Estavas, estiveste ali.

O tempo recomeça.

Apareces e desapareces.

Como a luz do farol disparando no céu sobre as casas 

ou como o anúncio luminoso do prédio em frente

que varre intermitente a obscuridade do quarto no filme. 

Quando voltará?

É como se soubesses

que voltará, sim, e que não, não poderá voltar. 

Quando, e se voltar, serei eu talve

quem já lá não está. Quando 

é quando?

Quanto tempo ainda poderá o mundo voltar 

à possibilidade dessa forma?

.............

Revolução orbital

Revolução orbital: vai-se a rosa transformando 

na coisa múltipla, amante e amada, na acção 

que assim a faz e nos acidentes mínimos – paisagens, 

estações dos dias e das noites, dos anos da história. 

Ondula no cérebro a fronteira que as margens da luz 

desenham. E a rosa é uma hélice que vibra 

no ar que a respirar obriga(s): torção dos pulmões, 

do tronco e do sexo, dos nomes e dos vocativos 

que se respondem: como um coração que deflagra 

a rosa faz do ar que te falta a terra de onde nasces 

e o chão sobre que danças. 

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