7.2.24

Diário de Bordos - Z'Abricots, Martinique, DOM-TOM França, 07-02-2024

As manhãs começam com os barcos: primeiro o P., depois o S. D. Parece um programa político, mas não é: simples ordem cronológica. Despacho o que posso, tomo um duche e vou para F-d-F. Quando não passeio pela cidade a pé passeio de carro, devagarinho, à procura de um sítio onde estacionar, esperando não o encontrar tão depressa. Tento ver cada edifício com olhos de hoje e de ontem (e alguns de amanhã também).

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Primeiro jantar de confraternização a bordo do S.D. Jantar devia levar aspas: estava para ser um apéro. Transformou-se em jantar pela força das circunstâncias. Correu bem. Fomos três e lavei duzentas e cinquenta peças de loiça. Um dia terei de fazer uma lista exaustiva das razões pelas quais gosto de lavar a loiça. Não é só para engatar miúdas - se fosse, bem tramado estaria, parece que isto já não seduz ninguém.

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Loiça lavada e arrumada, planteur para a estrada, que é longa: pelo menos dois metros até ao camarote. O S. D. mexe-se desalmadamente, consequência da ventosga de hoje: quase vinte nós na marina. Oiço Evanthia Reboutsika, de quem estou a ficar fã mas decido passar para Pietra Montecorvino, de quem já o sou há muito tempo. Penso na viagem que fiz recentemente da Suécia para Cascais: só me senti em casa desde que cheguei a França, por muito que tenha gostado da Dinamarca e da Alemanha (e do pouco da Suécia que vi). Não se trata de gostar. Trata-se de estar em casa. E não tem nada a ver com a língua, tem a ver com outra coisa que agora não sei definir por excesso de planteur, palavra francesa s'il en est.

(Prova da minha inesgotável generosidade; se não conhece Pietra Montercovino, conheça-a e dê por perdidos todos os anos que viveu sem a ouvir.)

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O meu corpo trai-me. Abandona-me, pouco a pouco. Se pensa que vou correr atrás dele está enganado. 

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