9.3.24

Diário de Bordos - Le Marin, Martinique, DOM-TOM França, 09-03-2024

Sou pela simplicidade. É preciso ser simples. Amar coisas simples: um almoço reduzido em St. Anne (La Cour Créole, que aconselho vivamente) passeio de bote com o T., caril de camarão ao jantar, a bordo (tenho caril até à próxima glaciação), cerveja e DV no poço a ver passar o cortejo de luzinhas verdes dos táxis. É sábado e os clientes dos charters não param de chegar. Parece uma procissão. Tenho sorte: no meu pontão só há uma empresa e nem sequer é das maiores. O horroroso barulho dos sacos com rodas nas madeiras - esta gente vei para um barco como se fosse para um hotel - não dura muito. O último grupo que chegou deve ser polaco. Era pelo menos do Leste. Sempre houve muitos aqui, não sei porquê. 

Agora basta deixar o dia acabar, simplesmente (não sei se deva pôr uma vírgula entre acabar e simplesmente.) Vai acabar: lavar a loiça, beber o resto do planteur que comecei antes de comer, pensar que daqui a duas semanas estarei na minha amada Palma, lembrar-me de que posso emigrar de tudo menos da língua. E do mar, objectivos contraditórios: o meu mar recusa-se terminantemente a falar português. 

Há duas coisas que o impedem: a preferência que os portugueses têm pela ignorância, pensando (erradamente, claro) que é mais barata do que o saber; e a que têm pelo que é barato pensando (erradamente) que o barato é mais barato do que o caro. Não é. É muito mais caro.

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Chove de novo. Este ano está insuportável. Apetece mandar o Niño para o inferno dos climato-histéricos explicar-lhes que fascismo é isto: chuva e mais chuva. Vá lá que hoje não choveu durante o dia. E explicar aos ditos histéricos que isto não tem nada a ver com o clime. Tem a ver com a meteorologia. São duas coisas diferentes, se por acaso, como o cu e as calças do velho dito português.

Pergunto-me como vai ser a travessia. Há dois anos foi completamente atípica e não houve El Niño. Este ano posso levar Iridium e Starlink e tudo isso, mas não estou muito para aí voltado. Continuo a pensar que os custos e os inconvenientes não compensam as vantagens.

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