26.3.24

Diário de Bordos - Palma, Mallorca, Baleares, Espanha, 26-03-2024

Poderia - e talvez devesse - começar pela temperatura à chegada a Paris: três graus centígrados. Sete horas e meia antes estava a trinta. Ou pela de Barcelona: doze. Da de Palma não me lembro porque na verdade pouco me importava. Estava em casa e toda a gente sabe que quando se abre a porta de casa depois de uma longa ausência o frio e o calor desaparecem e são substituídos por um sentimento a que alguns chamam plenitude, outros amor e outros ainda, mais primários, "até que enfim!"

Porém, seria mais lógico começar por lembrar a tortura que foram essas tais sete horas e meia. Quem não tem inveja dos anões não faz grandes viagens de avião em classe gado. Quem as faz tem, sem precisar de esperar mais de sete horas. Aparece logo.

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O primeiro jantar em Palma foi no Gustar. Vitello tonnato, claro. Quem já não tem mãe tem restaurantes conhecidos. Isto é: restaurantes que conhece e aonde o conhecem.

(De qualquer forma, nunca mais comerei fatias recheadas como as que a minha fazia.)

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Meu P., minha cruz. Continua um estaleiro. Desa vez é preciso substituir a roda de leme por uma cana, como estava originalmente. Passei anos a pedir à M. para me dizer "Não!" cada vez que lhe pedisse para tirar esta roda, que mais parece uma daquelas coisas que os turistas usam em Londres e em Cascais. Agora teve de ser. O que é que o Wilde dizia, sobre a satisfação dos nossos desejos? É o diabo, não é?

É. 

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Deixo o S. D. - um tupperware cum residência secundária - para vir para o P., espécie de embarcação de vela reduzida à sua essência, à sua verdade, nua e simples. Qualquer pessoa que perceba as razões que me levam a preferir este àquele tem admissão imediata no meu círculo íntimo. Ou no Inferno, não é muito diferente: a Verdade, assim mesmo em caixa alta, é sempre mais dura do que o ersatz.

Aliás, é seguramente por isso que a mentira foi inventada.

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Jetlag: lembrar-me de que em Portugal é uma hora menos e não quatro mais.

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