16.4.24

Diário de Bordos - Fort-de-France, Martinique, DOM-TOM França, 16-04-2024

Venho (pelo que espero seja a última vez desta vez) a Fort-de-France. Tive sorte: vim num taxico e espero voltar noutro. Ainda os há, se bem sejam poucos.  As romarias do adeus têm sempre uma força especial porque detesto despedidas e esta foi exactamente isso, com o bónus do taxico, mais barato do que um táxi e mais rápido do que um autocarro, com a vantagem suplementar dos diálogos a bordo. Como todos os condutores de minivans do mundo este conduzia maravilhosamente e num instante pôs-me na cidade. O meu vizinho do lado tinha três irmãos pescadores - dos quais um morreu afogado - e o da frente fez uma brincadeira com a massa que o tripulante me passou (viemos os dois, ele para um lado e eu para outro, que isto de romarias sim, mas em solitário, se faz favor). Acabo no L'Impératrice, não podia deixar de ser, antes de ir para o terminal apanhar transporte para o Marin. Capelas visitadas: Biblioteca - procurar um livro do Marai que não têm e ler passagens da Cidade de Deus - a cabana dos cigarros aonde bebi um ti'punch e comprei quatro unidades, o Pain de Sucre, que continua o meu restaurante favorito nesta cidade e por fim, evidentemente, o L'Impé. Acho que herdei do meu Pai esta fixação no que se conhece, esta ideia de que mais vale ser bom cliente num sítio do que mau em dezenas deles, esta noção de fidelidade - ou melhor, esta noção de que há mais numa transacção comercial do que a transação ela própria. O almoço foi impecável de bom e de barato, como sempre, os cigarros e o ti'punch vieram acompanhados de várias manifestações de apreço - e servidos por uma miúda cujos seios dispensavam galharda e brilhantemente o soutien que não tinha, o primeiro rum no Impé veio um bocadinho acima da marca (o segundo veio normal, coisa que me dispenso de comentar).
Como sempre, só no Marin vejo quanto gosto desta cidade e só agora quão pouco a conheço e quão pouco a quero conhecer para além do que já está. O «gosto desta cidade» nunca chegará a «amo esta cidade». Não amo. Gosto destes trezentos metros lineares que dela percorro.

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Ao contrário do que esperava, consegui falar ao telefone com o senhor da Polymar. Reservo os prognósticos para o fim do jogo, como disse uma vez um cérebro brilhante cujo nome ignoro.

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(Cont.)

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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.