19.6.24

Amanhã há mais. Talvez.

Os dias e os cavalos morrem devagar? Não sei. Este sim. Não morre: desagua num grande delta, como o do Ganges, o do Nilo, o do Mississipi ou o do Zambeze. Há mesmo um delta que desagua em terra, o do Okavango. Há dias e rios para tudo, como cavalos. Avançamos montados no dia, esporas na barriga do cavalo, copo na boca e de repente tudo começa a ir mais devagar: o cavalo, as esporas, os copos. Como nos deltas, aonde a água corre devagarinho, não vá perder-se.

Assim se esvai um dia, «feito de nada como nós». Amanhã há mais. Há sempre mais: «mais luz», mais mar, mais vida. Mais de tudo o que já foi e de tudo o que será. Amanhã há mais: hoje não passa de uma amostra. Ontem foi um treino. Ou foram, que houve muitos.

«Uma vez que ignoras o que te reserva o dia de amanhã,
Procura ser feliz, hoje.
Toma uma ânfora de vinho, senta-te ao luar e bebe,
Lembrando-te de que, talvez amanhã, a lua te procurará em vão.»

(Omar Khayyam. Não sei de quem é a tradução.)

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