18.6.24

Diário de Bordos - Palma, Mallorca, Baleares, Espanha, 18-06-2024

As senhoras - nenhum homem faz o mesmo - que me acusam de gastar dinheiro em cocktails, vermutes e sei lá que mais deviam começar por ter juízo e continuar por calarem-se. O único dinheiro verdadeiramente mal gasto que gasto é em livros. Como resistir, por exemplo, a este título: El murmullo del agua. Fuentes, jardines y divinidades acuaticas, de uma autora chamada María Belmonte, publicado na Acantilado, Barcelona, 2024? Não sei nem, aviso já, quero saber. Basta folhear meia dúzia de páginas para perceber que o raio do livro é imprescindível - opinião essa que o José Luis, da Babel, confirma com o seu habitual e louvável laconismo.

O resto do dinheiro que gastei hoje - alpergatas, vinho no Antiquari, palo sifonado na Bodega Bellver - foi sensata e conscenciosamente dispendido. Sobretudo o vinho e o palos. O almoço não foi grande coisa: o Sabores Criollos estava fechado e fui ao outro colombiano, que lhe fica à frente. Estava uma merda, mas vá lá: têm cerveja Aguila (a colombiana, a verdadeira) e isso perdoa muita coisa.

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Chego a bordo com uma inextinguível vontade de ouvir música barroca. Cânticos, exaltações, malabarismos. Acabo na Bartoli a cantar Vivaldi, mas até lá chegar confirmei duas ou três opiniões, que não exprimo aqui para não ter de pedir desculpa aos meus amigos que percebem realmente de música. Ao contrário de mim, que dela sei tanto como sei de hidrodinâmica dos mosquitos em meio hostil. 

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A relação simbiótica que mantenho há bastos anos com a teimosia voltou a manifestar-se e comecei o dia a tentar reparar a bomba da retrete. O cheiro de merda mistura-se bem com o do café, dir-me-ão os mais cépticos dos leitores. Não consegui, claro. O Ricardo diz que o problema não está na bomba mas sim no macho de fundo e eu tento resistir à óbvia necessidade de encher o bote de água (isto é, desmontar a mangueira do macho de fundo e do passa-cascos com o barco a nado) para verificar essa hipótese. Só não posso é fazê-lo sózinho, por um lado; e por outro isso é tarefa para um dia, coisa de que estou em notória ruptura de stock. A alternativa é mandar vir um mergulhador, mas não acredito que seja suficiente. O glamour, o glamour!

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Ou seja: uma série de nós que só um mezcal no 7 Machos pode desatar.

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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.