29.6.24

Diário de Bordos - Palma, Mallorca, Baleares, Espanha, 29-06-2024

A sesta foi tardia e quando acordei já era quase hora de jantar. Lembrei-me do polvo à galega do Jaume, que a esta hora está quase vazio e foi aqui que vim. Depois? Não sei. Talvez Moltabarra, talvez 7 Machos. Estou a precisar de ver gente e ouvir barulho.
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O D.A.D.A. - dói aqui, dói ali - continua pujante. Agora é a perna direita. Tenho-a tratado com um comprimido efervescente que é uma mistura de tramadol e paracetamol. Hoje experimentei o comprimido dissolvido em cerveja em vez do habitual copo de água e parece-me que o resultado é bastante melhor. O fabricante afirma que aquilo acabava em Setembro do ano passado. Visivelmente não conhece os efeitos rejuvenescedores da cerveja. O único efeito negativo é a alteração do gosto, que fica a parecer beer shandy. Não sou totalmente objectivo e acredito no efeito placebo: vou repetir a experiência.

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Acordo cansado, adormeço cansado, durmo cansado. A continuar assim até morto estarei cansado. 

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O governo de Mallorca - ou mais provavelmente a câmara municipal - lançou um concurso de ideias para «reformar a Plaza Mayor». A melhor ideia seria não lhe tocarem, mas duvido que tenha muito êxito. O frenesi dos políticos é imparável. Excepto na Suíça, porque esbarra contra a opinião das pessoas. Duvido muito que lá conseguissem «reformar» aquela sublime praça.

(É possível que o concurso se refira ao centro comercial do subsolo. A ser assim, já cá não está quem falou.)

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Continuo a comprar livros como se eles me salvassem do cansaço. Como se me salvassem da forca. Do sono. Desta quantidade de mulheres bonitas que desfila à minha frente. Como se me salvassem de tudo menos desta beleza toda, deste calor reconfortante, deste bar tão bonito, desta bicicleta que me espera lá fora, desta amiga que em breve irei buscar ao aeroporto, destes netos que tanto me faltam.

Não os leio, mas pelo menos fazem-me escrever.

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Dois cafés, duas hierbas secas e o cansaço atenua-se. É visivelmente um cansaço solúvel.

Ou solucionável, vá saber-se.

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ADENDA

Ao fim e ao cabo foi a cerveja que decidiu: o 7 Machos tem Modelo e a minha preferência por cervejas latino-americanas fez ouvir a sua voz.

Escolhi bem: está o Alex, a Lynn e respectivo (nunca me lembro do nome do homem), está o Johnson, a Modelo não está muito gelada mas o Alex pôs a próxima no congelador, a Lynn continua linda e feliz, as cachopas giras e espero que felizes também. 

O novo local é indiscutivelmente melhor e enquanto a cerveja arrefece bebo uma margarita rápida, que não quero dar falsas expectativas à BH Glasgow Vintage. 

(Escolhi um canto do bar quase quase equivalente ao outro. Já só me falta resolver o quase.)

[Resolvido.]

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Duas Modelo, uma Margarita, dois maricas que se beijam na boca, quatro miúdas lindas que gritam como se não houvesse amanhã e mostram as pernas e as barrigas como se precisassem de dizer aos maricas que se enganaram (não precisam. Eles não se enganaram. São grandes, maiores e vacinados. Mas que elas são giras são. Todas).

A Modelo continua a não estar suficientemente fria.

A vida é bela, o 7 Machos está  cheio e eu estou sentado num canto do balcão a ver e a ouvir. Não posso ignorar. 

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As pequenas da mesa à frente do meu cantinho de bar falam cada vez mais alto; os maricas, visivelmente apaixonados, foram-se embora; o bar parece uma fábrica de imprimir dinheiro.

Eu penso naquela piada do amigo do meu Pai, que dizia "Quem não tem carro tem três mil e quinhentos carros" (referia-se aos táxis então existentes em Lisboa) e pergunto-me o que têm as pessoas contra a solidão?

Se não estivesse sozinho não veria nada do que estou a ver. Ou melhor: se não estivesse sozinho não viveria nada do que estou a viver. A solidão resolve-se numa sílaba.

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Do 7 Machos vou ao Moltabarra. Fechado. Flexas. Fechado. Regresso a Santa Catalina, pensando que não é por acaso que a senhora se casou com Cristo e acabou numa roda. A esta hora (duas da manhã) ainda há bastantes opções para comer. Sendo porém conservador vou ao Diner 66. Um cachorro quente e um copo de vinho: quinze euros, pagos adiantado "porque é fim-de-semana". O molho picante, as batatas fritas e mais não sei que mais são pagos à parte. É igualmente imprescindível reconhecer a enormidade do cachorro e que é bom, que o molho picante pica, que nunca gastei tanto dinheiro em comida (e bebida) como hoje e, finalmente, que um dia não são dias. Com a A. aqui isto vai voltar ao nível normal. 

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