25.6.24

Diário de Bordos - Port de Sóller, Mallorca, Baleares, Espanha, 25-06-2024

Não se pode dizer que o charter esteja a correr mal pela razão simples e linear de que não está. Antes pelo contrário: vim aos meus portos (ou calas) favoritos desta ilha, os clientes são bastante aceitáveis, o bote podia estar melhor mas podia também estar muito pior, o tempo está porreiro e a massa que recebi permitiu-me safar uma ou duas enrascadas. 

Tão pouco se pode dizer que seja dado a transes místicos, esotéricos, transcendentais. Não sou. Não passo de um troglodita que por uma qualquer dobra mal feita no tecido do espaço-tempo aprendeu a ler, comer de garfo e faca, ser bem-educado mesmo para as pessoas de quem não gosta e - nos dias melhores - não palitar os dentes à mesa (dar puns então nem se fala, o que eleva a quantidade de habilidades que conheço a um nível quase estratosférico). Tenho contudo uma sorte, uma bênção: sei reconhecer pessoas transcendentes. Mais do que reconhecer: sei falar-lhes e amá-las. 

Nalguns casos, até me aconteceu ser amado por algumas dessas pessoas - o que se não me leva a acreditar na existência de Deus, obriga-me pelo menos a acreditar na sorte. O que já é muito, para um céptico.

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Os restaurantes estão cheios de outro tipo de trogloditas: os que gostam de futebol. Invejo-os. Têm mais sorte do que eu: acreditam em qualquer coisa.

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Soller está para Palma como Cascais para Lisboa: mal chego aqui parece-me estar em férias.

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Hoje vendi uma caixa de postais, precisamente em Cascais. Quando penso que detestava lá viver lembro-me de que o caminho para sair da imbecilidade é longo, lento e - quase de certeza - interminável.

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O Payesa está fechado, o Bar Bosch mesmo ao lado do restaurante aonde os clientes comem e graças a essa feliz coincidência descubro o hotel Le-Vi. Mais uma prova de que o caminho para fora da imbecilidade é interminável: como é que não descobri isto antes, alguém me explica (sem usar as palavras imbecil ou estúpido, claro)?

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