20.7.24

Diário de Bordos - Palma, Mallorca, Baleares, Espanha, 20-07-2024

E provável que todas as cidades tenham uma rue Daguerre, uma rua que concentra tudo aquilo de que nelas (cidades) gostamos. Em Paris, para mim, é essa tal rua Daguerre. Tem uma queijaria que o Le Point classificou há anos - tantos que ainda os jornalistas não se vendiam por meia dúzia de amendoins - de "a segunda melhor de Paris"; tem um café/ cave à vins aonde se come, se bebe e se lê mais do que decentemente; tem uma livraria, que dantes se chamava Arbre à Lettres, para mim (repito-me, eu sei) um dos melhores nomes de livraria que conheço; dantes, ainda dantes, tinha a (para mim, ditto) melhor tasca da cidade, chamada apropriadamente Au Vin des Rues. Fechou, desgraçadamente. 

Em Palma, a minha rue Daguerre chama-se carrer Arabi. É mais pequena do que a rue Daguerre - não é bem sequer uma rua, é mais uma praça - e só tem três lojas. Para grande desgraça minha, são as melhores lojas de Palma, na respectiva categoria. Começo por cima (a rua é inclinada): En mi maleta, uma loja de presentes. Pertence a uma senhora chamada Paloma. Não é uma loja de fancaria, de recuerdos à la bimba. Tem objectos lindos e hoje lá deixei outra vez uma pipa de massa porque quero levar presentes à família; a seguir vem a Biblioteca de Babel, que o FT classifica de "uma das vinte melhores livrarias do mundo" e eu concordo. Cada vez que lá vou sinto-me na Citylights, versão reduzida. A Biblioteca de Babel é uma daquelas livrarias em que um gajo entra e cinco minutos depois está a pensar "quero comprar todos os livros, por favor".

Este "por favor" é dirigido ao dono, um senhor que para além de perceber de literatura percebe muito de literatura e tem um pequeno e simples bar aonde se pode dar aos livros os preliminares que normalmente reservamos às senhoras. Livros e vinhos excelentes. Que mais se pode pedir? Um bom vermute, José Luis, por favor. 

Ao lado fica o Antiquari, que hoje graças a Deus estava fechado.

São os cinquenta metros de rua mais caros de Palma. (Para mim, claro. Em cinquenta metros do Passeig des Born é possível gastar dez vezes o que hoje deixei na carrer Arabi. A diferença sendo que no Born seria deitar dinheiro à rua.)

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Segunda-feira vou a Lisboa ver a família e amigos, fazer uma ecografia e tentar ser visto por um médico do SNS. Aviso aos cépticos: eu acredito. (Refiro-me claro ao último objectivo. Os outros são do sector privado.)

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Bicha de vinte metros no Rivarena da Plaza de la Lontja. Penso: estes gelados são uma merda. Espero que os mentecaptos nunca descubram o Claudio.

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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.