17.11.24

Diário de Bordos - Genebra, Suíça, 17-11-2024

Passeio tardo-melancólico por Genebra. A primeira coisa que noto ao sair de casa é que está menos frio. (Chegado confirmo. Estão onze graus.) A segunda é que há mais trânsito do que era habitual aos domingos. Penso muitas vezes num comentário de um americano sobre Lausanne que eu transpunha para Genebra: "Lausanne é uma cidade ligeiramente maior do que o cemitério de Chicago mas com menos vida" (transcrição de memória). Genebra já não é assim. Lausanne não sei, não vou lá há uma data de anos. Deambulo devagar, entro num café porque tenho de pôr um pouco de ordem nos dias (ou seja, na cabeça - dois cafés: dez euros e cinquenta cêntimos. A ordem nos dias só não se estilhaça porque já estou aclimatado aos preços, como às temperaturas), continuo a andar, no caminho de regresso vejo uma tascazinha a vender falafel a um preço convidativo. Entro, os falafel são óptimos,  as cervejas é que são caras mas estou-me nas tintas, a melancolia que leve a melhor, a melancolia e o tanque de tintas aonde estou, bem sei que em casa tenho cerveja e vinho mas esses ficam para depois (isto é, agora). Penso em tudo o que tenho de fazer - escrita, fotografia - pergunto-me se tenho de é o verbo adequado e a resposta vem bífida: metade de mim diz sim, a outra diz não, que não é ter de, é querer ou quando muito quando muito dever. A fronteira entre o abulismo e a preguiça é transparente de tão fina mas a agulha acaba por cair naquele, sempre é mais nobre.

Amanhã saio de casa de madrugada. Estive aqui uma semana e um dia e vi os netos duas vezes. É como quando nos jogos de basket pedíamos um minuto de pausa, indicador direito vertical contra a palma da mão esquerda na horizontal, um minuto de pausa, senhor árbitro. Neste caso foram dois.

.........

Pouco a pouco o "meu" P. vai deixando de ser meu. Só me apetece vergastar-me e dizer-me "É bem feita! É bem feita!" Não o faço. Mais vale perder do que não tentar. Não tenho de me envergonhar do que fiz, erros e asneiras incluídos.

E muito nenos do que não fiz.

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