Mais uma viagem na CP, comboios de Portugal para quem não sabe. Desta vez a revisora recusou-me o acréscimo para primeira classe e infelizmente ouviu-me comentar o facto com o senhor do bar (estava num sítio aonde eu não a podia ver e saiu de lá a dizer - cito verbatim - que eu não sabia o que ela "tinha entre as pernas". A questão sendo que até agora os revisores sempre o fizeram e uma mulher não.)
Respondi-lhe que ela tinha razão, mas na verdade eu não queria saber e resigno-me a viajar no bar, de resto mais confortável do que a primeira classe.
E mais barato, claro.
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É fácil suportar melhor a loucura do que a estupidez. As coisas só se complicam quando as duas se misturam.
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A minha Coluer vai carregada como se de um sem abrigo se tratasse. Um dia terei uma bicicleta de carga e nela passearei os netos. Por agora: sacos de supermercado e esta ideia de que sou um sem abrigo com mais sorte do que muitos com abrigo.
Coisa que de resto este Natal demonstrou à saciedade.
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Leio Antares, de Clara Pinto Correia. Não é exactamente uma autobiografia; tão pouco é uma auto-hagiografia; não sei como qualificar a coisa. Sei que está bem escrito, apesar de precisar de um bom trabalho de edição. Que ao lê-la me parece ouvi-la (é um elogio) e que a revisora do comboio aparenta ter-se esquecido da nossa inicial troca de palavras. Um casal tem o som do telefone demasiado alto e eu respondo com Mingus e Dolphy. Estou na mesa grande do bar e ninguém se senta ao meu lado. O casal reagiu positivamente à minha insinuação e desligou a música. Faço o mesmo, lamentando que a dupla Mingus & Dolphy não sejo do seu (deles) agrado.
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Abro o Antares ao acaso e vejo uma frase sobre a solidão, que devia ser um pecado mortal. Toda a sequência é linda de morrer. Só a força é capaz de expor as suas fragilidades.
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Porto - Campanhã. Daqui a uma hora chego a Viana do Castelo, destino intermédio. A vantagem do comboio é que um gajo vai sentado, não faz nada para se mover mas isto mexe-se como um barco e exige o mesmo equilíbrio do que uma bicicleta.
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A natureza não gosta de números ímpares. O meu Pai dizia que não se deve beber uma quantidade ímpar de bebidas. As relações amorosas tão pouco suportam uma terceira participante. (Isto ninguém me ensinou. Aprendi.)
Acima de três a relação deixa de ser amorosa, de qualquer forma.
Isto é: a dois, a relação é amorosa. A três é relação. A mais não é uma coisa nem outra.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.