12.11.06

Um dia perfeito

Lisboa tem dias destes: a luz, o sol, o calor - tudo se conjuga para fazer de um dia um dia perfeito. Até no restaurante acertei, uma esplanadazinha pequena no Chiado. Ao meu lado um casal tenta encontrar pretextos para discutir. Todos são bons: desde as multas de estacionamento ate à mulher a dias, passando pela arrumação, a exposição que iam ver logo à tarde, tudo serve. O que não deixa de ser irónico, porque o restaurante chama-se "Amo.te Chiado", nome um bocadinho a cair para o foleiro, é verdade, mas enfim, isso não passa de um pormenor menor. Entre cada discussão olhavam-se intensamente, e depois recomeçavam. Às vezes, entre os olhares e as disputas lá consegiam trocar duas ou três frases num tom normal.

Um bocado cansado dela, ele começa uma discussão completamente idiota, agressiva, mal-educada, com o empregado. Por mim, delicio-me com a luz, com o calor, com um bacalhau com tapenade, bastante aceitável. Na mesa à frente, duas jovens. Uma dela fala com o provavelmente namorado. Está aborrecida com ele porque estão as duas à espera e ele não aparece, e ele é irresponsável, e ela está muito contente por não ser mãe dele porque se fosse estaria muito triste e por aí fora.

Na mesa ao lado o tema de discussão agora é a maneira completamente inaceitável (opinião dela, e incidentalmente minha) como ele tratou o empregado. Ela é muito bonita, mas ele tem uma cara na qual só apetece dar bofetadas, umas a seguir às outras, sem parar nem para descansar.

Na mesa à frente a rapariga recebe um telefonema do namorado: já não vem. "Estava a brincar", defende-se ela. Mas não o demove: ele não vem, apesar das insistências dela.

Acabo de comer e falo com o empregado. Felicito-o pela calma com que lidou com aquele parvalhão (entretanto já se foram embora). O dia continua perfeito, feliz.

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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.