12.11.08

O país que temos

Num blog que muito aprecio há um desabafo sobre a qualidade dos nossos políticos. Eu não concordo inteiramente com o que a Luísa diz: os nossos políticos não são piores do que os dos outros, da mesma forma que nós, portugueses, não somos intrinsecamente piores do que os alemães, suíços, franceses ou togoleses. Temos, nós e têm eles, os políticos, as suas qualidades e os seus defeitos. E é evidente (enfim, parece-me) que como toda a gente os políticos respondem a estímulos: se esses estímulos os puxam para cima eles são melhores do que se não houver estímulos, ou não forem suficientemente estimulantes, os estímulos. Há só um ponto, um só, em que por vezes me acontece pensar que a Luísa tem razão, talvez tenha. Pode parecer trivial, banal, vulgar, ordinário - mas é importante e, quiçá, significativo.

Refiro-me às casas de banho dos locais públicos em Portugal. Mesmo para uma pessoa como eu, que poderia ser pequenina e ágil se quisesse - mas não quer - entrar numa casa de banho de um restaurante é uma contradição nos termos: ou vai ao restaurante ou vai à casa de banho; mas não aos dois.

O que torna a coisa realmente incompreensível é haver, sempre, inevitavelmente, duas casas de banho minúsculas - uma para os homens e outra para as senhoras. Dado que dentro dessas casa de banho só pode estar uma pessoa de cada vez (o que não deixa, parfois, de ser lamentável) não consigo impedir-me de perguntar porque não fazem os restaurantes uma casa de banho só, maior.

Um amigo arquitecto, instado sobre tão premente questão, esclareceu-me que na realidade a legislação obriga os locais públicos, minúsculos que sejam, a ter três - 3 - casas de banho: as duas acima citadas e uma para as e os empregados.  Por que (é caso para dizê-lo) carga de água os restaurantes não podem eles próprios decidir se querem ter uma, duas ou três casas de banho é questão que me intriga e entristece.

Das duas uma: ou os políticos que decidem tais coisas, coitados, são uns magrichões ginasiados e cabem nas ditas cujas; ou só vão a restaurantes de luxo, onde o comum dos portugueses não pode ir mais do que uma ou duas vezes por semana (como o Gambrinus, por exemplo); ou os donos dos restaurantes não se lembraram, ainda, de lá fechar uns quantos deles, durante meia-dúzia de horas.

A verdade é que as casas de banho são uma imagem do país que temos: pequenas, inacessíveis, incompreensíveis e totalmente desconhecidas dos senhores que fazem as normas (que vivem, eles, noutro país - o que só demonstra que não são completamente estúpidos).

2 comentários:

  1. lol lol lol
    (e eu a imaginá-lo a tentar entrar e sair das casa-de-banho...)

    Deixe lá, Luís, eu, em geral, tenho sempre de entrar com a mais pequena.
    :-)))

    ResponderEliminar
  2. Os meus agradecimentos pela referência, Luís, e duas discretas notas:
    1) Os nossos políticos não são piores do que os outros, se os compararmos com o padrão de certos países africanos, asiáticos e sul-americanos. Mas são-no se os compararmos com outros, de países nórdicos, por exemplo; até na qualidade dos privilégios que a condição de políticos lhes assegura.
    2) Mas é precisamente nessas pequenas coisas que se vislumbram os verdadeiros contornos da realidade. A motivação dos nossos políticos é, em primeira linha, poder escapar ao fado dos WC muito acanhados e pouco limpos, dos restaurantes do bitoque e do carrascão, das pensões do lençol de nylon e do percevejo, dos armazéns de revenda, do carro utilitário, com míseros 900 c.c. de cilindrada, do apartamento de três assoalhadas na periferia, das viagens na lata de sardinhas da classe turística – ou da falta de viagens… etc., etc., etc. Claro que todos aspiramos ao mesmo. O que nos diferencia é que, na luta por uma vida melhor, nem todos nos servimos da política.

    ResponderEliminar

Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.