9.1.09

O frio do dia

Le bar est très petit; un minuscule bar à vins avec trois ou quatre tables et une musique superbe, parfois. Derrière il y a une terrasse, petite elle aussi; mais on ne peut y aller qu'en été.

Os portugueses descobrem os vinhos, as viagens, as lojas "gourmet" (é impossível não ouvir as conversas das outras mesas, sobretudo se se está sozinho e com os sentidos hiper-sensíveis) com uma ingenuidade enternecedora, por vezes; outras, com um insuportável pedantismo - mas sempre com um entusiasmo notável.

Naquela mesa não é o caso. São três, aparentemente todos professores, e todos residentes ou ex-residentes no estrangeiro. A senhora tem um rosto particular: não é muito bonita, mas tem um olhar e uma voz doces como o fim de um dia na Barra, daqueles em que o sol quase parece pedir desculpa à cidade por ter de se despedir, muito gentilmente. Fala suavemente, em frases bem construídas e articuladas. Nas vírgulas sorri; nos pontos e vírgula também, um bocadinho mais demoradamente. Nos pontos, olha para cada dos seus companheiros, como se lhes perguntasse "perceberam? posso continuar?". Não percebo de que é professora, mas deve ser excelente - como pedagoga, mulher, mãe, pessoa.

Um dos seus colegas de mesa vai dar aulas "no Novo Mundo" - não percebo onde. A música é de Ali Farka Touré e Toumané Diabaté; o vinho, um Quinta das Baldias LBV 2003, pouco interessante; o dia, frio e soalheiro - uma mistura da qual gosto desde que pela primeira vez as vi, na Rússia (só que aí a temperatura era de menos vinte, ou menos trinta . Até o sol tremia).

O dia chegou ao fim. O frio continua. Tenho fome: é bom sinal. Durante muito tempo perguntava-me "onde ir jantar?", e logo a seguir, antes mesmo de ter encontrado a resposta, "porquê?". Depois tentava responder às duas perguntas, para disfarçar, mas nem sempre era fácil. Hoje não sei onde vou jantar, mas sei porquê.

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