30.8.09

O país real - II

Um amigo meu estava a escrever um livro sobre a fauna e a flora de um determinado concelho. Oito meses antes da publicação apercebeu-se de que não teria dinheiro para terminar a obra e pediu "apoio" à respectiva Câmara Municipal. "A Câmara Municipal de... não está vocacionada para prestar esse tipo de apoios", foi a resposta, lesta (ao menos isso).

O M., que também é de ir à luta, telefonou a um amigo dele, administrador de uma grande cadeia de jornais. Pouco tempo depois, uma reportagem de seis-páginas-seis aparece no suplemento dominical de um dos jornais do grupo.

Na segunda-feira seguinte (não é uma força de expressão: foi realmente na segunda-feira seguinte à publicação) recebe um telefonema da Câmara Municipal: gostariam de marcar uma reunião com ele, por causa do pedido de apoio. "O senhor presidente da Câmara quer absolutamente estar envolvido e ajudá-lo a completar essa obra, fundamental para o nosso Concelho", diz-lhe a senhora que assinara a carta a recusar-lhe o apoio.

E ainda falam em modernização, qualidade e assim: a qualidade intrínseca de um projecto vale zero, no nosso país. O que vale é a qualidade da agenda telefónica. Só.

2 comentários:

  1. ...... (silêncio ainda indignado) ......

    ResponderEliminar
  2. E dos bons contactos do tal amigo. Podemos recusar emocionalmente esta realidade mas a verdade é que continuamos a ser um país na mão de caciques.

    ResponderEliminar

Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.