13.9.10

A melancia, os astros e o amor

"Ninguém imagina o que uma melancia fresca e boa pode fazer pelo bem estar de uma pessoa", pensou, enquanto se enroscava na cama, melancia nos braços. A lua, acabadinha de nascer, tingiu-se de encarnado - sinal de empatia, sem dúvida. No mar, o sol que ainda há pouco se deitara voltou atrás. Não sabia, mas tinha os dois principais astros com ele.

Na cama lembrou-se dos seios de Isabela; "não é por acaso que os bons seios têm a forma de melancias cortadas ao meio". Mas a recordação dos de Analisa fê-lo acrescentar "enfim, nem todos". Adormeceu numa mistura revolta de melancias e seios a que se juntaram imediatamente coxas e mangas (os frutos tropicais, não as da roupa). Dos trópicos passou a algumas peles mais escuras que já lhe tinham iluminado algumas noites ou escurecido alguns dias; dormia a sono livre e viajava pelo tempo, a cavalo no sonho. Via ventres, línguas, lábios, mãos mas não os misturava: sabia perfeitamente de quem era cada uma das partes do corpo que lhe aparecia, como num anúncio da TV. "Girls, it's only girls", explicou, quando chegou à secção anglófona (os sonhos são como bibliotecas, estão divididos por secções e por idiomas).

Acordou de manhã com a melancia desfeita e uma mensagem de Isabela, a dizer que se ia embora para o Japão (era hospedeira nos aviões). Com ela tinha iniciado uma prática que acabara de interromper: pedir a cada mulher com quem fazia amor que lhe desse uma nota, de zero a dez. Durante muito tempo a média andou pelos cinco, cinco e meio, seis, e não se importou; mas depois foi baixando. "É o sacana do amor", concluiu, depois de uma olhadela superficial para o registo das notas e das senhoras que lhas tinham atribuído. "Estraga tudo".

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