7.5.11

Em direcção à verdade

A palavra forsooth, que para os comuns mortais só existe em Shakespeare e no inefável Fever de Peggy Lee, é uma prova séria de que a verdade é um lume incombustível. O Merriam-Webster diz desta expressão que é característica do Middle English — o inglês falado na Idade Média, entre os séculos XI e XV, afinal, bem antes de William Shakespeare.

Forsōth tinha, então, a acepção de "na verdade" (Fever! I'm afire, fever, yeah, I burn, forsooth). Como o ainda contemporâneo indeed, que pode significar, além de "na verdade", algo como "isso mesmo" ou o nosso tão automático "sinceramente", forsooth era uma bengala que perpetuava uma coisa que se pensou, uma verdade que se disse, efémera que fosse como o último sopro de uma vítima da peste negra.

Quem hoje disser forsooth está, em vez de sublinhar a verdade, a aconchegar a mentira. A eloquência cerimoniosa de um forsooth (e que se exprime agora num medianamente elegante indeed) deu lugar ao sarcasmo, que é quase sempre arrogante, porque se aprende rápido e, tendo a intenção de confundir o interlocutor sobre se se pensa mesmo o que se disse, é verdade sem possibilidade de mentira. Hoje, se alguém te disser You give me fever e tu responderes forsooth estás a duvidar. E a magoar, porque a dúvida dói mais do que a mentira. Em português:

— Amo-te.
— Pois, pois.

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