2.6.11

Deuses e demónios, demónias; anjos.

Tinha um encontro com os deuses, no outro dia. Embebedei-me antes de lhes aparecer, pontualmente à porta (sou patologicamente pontual). A conversa começou bem (falámps do tempo, e daqueles divinos pequenos nadas que mobilam um fim de tarde no jardim, no mar ou na cama); mas depressa descambou. "Quem acha que tem pilas maiores, os deuses ou os demónios?", perguntou-me um deles. Estavam todos grossos, impressionados com o que seria, vim mais tarde a saber, o seu primeiro encontro com um mortal.

"Na verdade acho impossível responder a essa pergunta porque não acredito que haja uma descontinuidade clara e límpida entre deuses e demónios. Acho que todos nós, vós incluídos, somos um bocadinho de cada, síncrona ou alternadamente".

"Boa resposta", disse um deles. "Vamos dar-lhe mais uns anos de vida, como prémio". "Discordo", disse o outro; "mais anos de vida é diabólico".

Deixei-os a discutir e fui beber baldes de gin tónico para a pérgola que havia ao fundo do jardim. Lá encontrei uma senhora com umas mamas muito bonitas, redondas, mamilos pequenos e rosados, bem delineados. Via-se que a natureza tinha perdido um bom par de horas com cada uma delas.

"A natureza é uma merda", pensei. "Estas mamas seriam muito melhores se tivessem sido desenhadas por uma demónia"; o que me levou a pensar que falamos em deuses, deusas e demónios, mas não em demónias. Talvez porque estejam entre nós, enquanto que aos outros é preciso procurá-los. Acho que sim.

Já esbarrei em tudo o que o mundo conta de deuses e demónios, e deusas; mas nunca esbarrei em nenhuma demónia, o que só reforça a minha convicção: elas estão entre nós.

Enfim, acabei a perguntar-lhe porque estava ela na pérgola de mamas ao léu. "Porque estava à tua espera, meu anjo", respondeu.

- Não acredito em mamas que me esperam. Mamas divinas só servem para nos asfixiar, nós mortais, nós que morremos por um bom par de mamas.
- Utilizas a palavra mamas demasiadas vezes, meu querido. É por isso que elas te asfixiam.
- Impossível. O que me asfixia não são as mamas, é o amor.

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