27.2.12

Varanda sobre o rio - III

É um rio que me obriga a ser quem não sou, mas quando se é quem não se é, é-se, não é? Talvez seja melhor dizer é um rio que me obriga a ser quem não gosto de ser; mas se calhar essa é a função dos rios.

Este post, pelo contrário, é um rio, um rio bonito; não tem reflexos laranja nem cadeiras de plástico, só tem coisas bonitas porque um homem que fala de si e da sua  necessidade de egoísmo (o egoísmo é como um rio que nos atravessa) é sempre bonito.

Há quem confunda solidão com egoísmo, mas são coisas diferentes.

E há quem confunda os rios. Não gosto de rios. São falsos, traiçoeiros, escondem na sua mansidão rochas e árvores e baixios e naufrágios que não se vêem, nem se adivinham.

O mar é franco. Não é por acaso que os rios desaguam no mar, mas o mar não desagua em lado nenhum.

Talvez aquele post não seja um rio, talvez seja um mar. Mar interior, mas mar.

Talvez tu sejas muito mais do que tu, talvez sejas tanto o meu passado como o meu futuro, talvez sejas o meu futuro, talvez sejas a minha solidão. Talvez sejas eu, disfarçado de qualquer coisa bonita.

Sei que não sou este rio; ou melhor: sei que sou este rio. Sei que sou esta varanda sobre este rio que me olha e me diz: este és tu, barrento e lento. Sei que sou o que serei, porque o que serei és tu.

Uma varanda sobre o rio.

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