10.6.14

Dogmas, doxas e climas

Os mais velhos de entre nós (ou seja, provavelmente quem tem mais de cinquenta anos) ainda se lembram dos tempos em que o clima era estável e o comunismo ia salvar o mundo. Como os coitados dos comunistas se ficaram pela fome, miséria e assassinatos em massa foi preciso arranjar outra coisa.

Essoutra coisa são as mudanças climáticas. Os bons, agora, podem tentar lixar toda a gente e mostrar que são bons, que estão do lado bom da barricada, são sensíveis, atentos às desgraças do mundo e não querem beneficiar do que este mundo lhes dá sem um pouco de má-consciência, essa irritante e ineficaz forma de retribuição; só têm de invocar duas palavras mágicas: mudanças climáticas.

Convenhamos que é mais simples do que luta de classes, que tinha três palavras. Ou proletários de todo o mundo, uni-vos (oito palavras, das quais uma é um pentassílabo - enfim para os que não acreditam em ditongos crescentes, mas isto é mais um divertimento post-prandial de boa sociedade, não é? - Para quem acha esses ditongos ditongos como os outros é um tetrassílabo, o que de qualquer forma continuava a ser complicado para os bons que esperavam por coisas simples como o homem novo ou criam nas virtudes regeneradoras do Gulag).

Vivam portanto as mudanças climáticas. Chateiam toda a gente, mas - pelo menos até ver - ainda não mataram ninguém.

(Se bem eu preferisse de longe que à morte do comunismo não tivesse sucedido outro dogma. Mas isso seria pedir de mais. On n'avance pas vers la vérité, on change de dogme, c'est tout).

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