13.10.17

Diário de Bordos - Barbate, Andaluzia, Espanha, 13-10-2017

Pode ser que o amor obnubile a memória;  ou a exacerbe. Vá saber-se. A verdade é que procurava um lugar onde estive com uma senhora que amava, faz agora alguns anos. Não encontrei.

Jantei com os armadores - um casal bastante mais simpático do que parecia às primeira e segunda vistas -; depois despachei-os para bordo e Ecco!

Encontrei o lugar. Não encontrei o então amor, claro. Esconde-se para lá da outra metade do mundo. Mas reencontrei-me, factor não despiciendo no meio deste turbilhão. Parece uma daquelas misturadoras de gelados mas com mil sabores diferentes.

Dois deles são clássicos: licor de hierbas e um cigarro comprado avulso. Vinte e cinco cêntimos cada; e a salsa nos altifalantes. Três. E estar ligeiramente grosso. Quatro.

Num turbilhão. Cinco.

Barbate é maior e mais feia do que a minha memória obnubilada ma representava. Antigamente chamava-se Barbate de Franco, mas deixou cair a segunda parte do nome. A marina continua vazia e com precos ridiculos de baixo.

O amor ou é obnubilador ou não é amor. É outra coisa qualquer.

Está calor. As pessoas que reclamam contra o aquecimento global não sabem viver. Isto é: não sabem nada.

Eu sei muitas coisas. Viver, por exemplo: basta calor, licor de hierbas, um cigarro avulso e a sombra de uma ameaça de um turbilhão. Tudo isto num molho de memórias e futuros breves, como são os meus.

Despachei os armadores e pensei que ficava sozinho. Não fico. Merda.

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