15.2.18

Inominável

Inominável é uma palavra que devia ser mais utilizada. Sub-aproveitada, por assim dizer. Beckett usou-a como título, mas lá está: era um génio.

Inominável é vasto: quase tudo é inominável, contrariamente ao que parece ou pensamos. Esta dor de cabeça, por exemplo: muito mais do que a cabeça dói-me tudo, o dia, a semana, o inverno, a esperança. Tudo.  Chamar dor de cabeça a isto não passa se uma simples ilusão, um comodismo, um facilitismo.

Inominável seria mais adequado. Não lhe dar de todo nome. Não me referir a ela, não para lhe esconder a existência mas porque é demasiado vasta para ser sequer perceptível, distinguível de tudo o que a rodeia.

Poderíamos viver num mundo de coisas sem nome? Ó pobre sombra ridícula, tu já vives num mundo de coisas inomináveis. Só não te apercebes disso porque alguém lhes deu um nome há alguns anos e tu habituaste-te a usá-lo, sem te aperceberes de que por baixo desse nome jaz um vastíssimo território de nada, de coisa nenhuma, um deserto inominável.

Vadeamos por aqui como uma criança pré-linguagem, mas como falamos e escrevemos e lemos não nos apercebemos do engano.

Inominável.

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