21.12.18

Uma história portuguesa

O melhor de Portugal não é o clima, a comida, as paisagens. O melhor de Portugal são os portugueses.

Há um paradoxo neste país no qual penso há muito tempo, mas que só hoje se me revelou. A história começa por uma encomenda para Coimbra que não é recebida pela pessoa a quem a enviei, porque me enganei na morada. Tento falar para os CTT pelos números disponíveis na página web deles e nenhum responde. Falo com os Correos: por enquanto nada a fazer. Como sou simultaneamente persistente e persuasivo vou obtendo números de telefone em Portugal. Todos ou se revelam equívocos ou não respondem - chegaram a dar-me o número de uma pessoa que já não trabalha nos CTT -.

O meu objectivo é simples, se bem composto: a) tentar fazer com que a encomenda seja entregue na morada correcta; b) ter a certeza de que me é devolvida caso a) não se concretize. Hoje consegui finalmente falar com um senhor que  vai tentar interceptar a encomenda e reencaminhá-la para o endereço correcto.

Não sei se na segunda-feira o senhor encontrará a encomenda se não; neste momento não há nada a fazer e portanto essa questão saiu do radar. Em contrapartida, penso no abismo que há entre os portugueses individualmente e as instituições que esses mesmos portugueses construíram. Não há relação nenhuma entre os dois. O português individualmente é uma pessoa prestável, amável, competente, eficaz. Ponha-se muitas pessoas como essa num organismo e este transforma-se numa fera prepotente, incapaz, indiferente, arrogante, incompetente.

O senhor que hoje me respondeu ao telefone (e a quem peço desculpa pela minha impaciência) tem aqui o meu agradecimento. Vamos a ver se na segunda-feira a encomenda volta para trás, para o caminho correcto. Uma coisa ninguém lhe tira: a simpatia e a boa-vontade com que se prestou a fazê-lo.

(Entretanto, interrompi a correspondência e-mail com o serviço de reclamações dos CTT: era compungente de mais.)

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