6.1.19

Diário de Bordos - Palma, Mallorca, Baleares, Espanha, 06-01-2019

O dia está lindo, quente e imóvel. Não há vento e o azul do céu mete-se por tudo quanto é frincha. Pedalo o mais lentamente que me é possível; na verdade passear não é o termo adequado. É esparramar-me por essa cidade, derramar-me como uma ânfora demasiado cheia nesta luz tão calma, tíbia, fina, luz que não ilumina, mais parece que acaricia as coisas, passa-lhes suavemente pela superfície da pele e deixa-as revelar-se como elas querem mostrar-se, sem forçar.

Procuro um sítio para beber um vermute e escrever - vim com a parafernália toda: postais, caneta, papel de carta, envelopes, tablet -. Acabo na esplanada do Baluarte, o museu de arte contemporânea da cidade. A vista é simples: uma linha de árvores e mastros por cima. Não há sítio na beira-mar de Palma de onde não se vejam mastros.

O vento é nulo e apesar disso o dia está lindo. Ou será "por causa disso"? Por causa desta ausência total de vento, desta imobilidade... Se alguém fizesse um estudo sobre a velocidade da luz encontraria decerto que a de Palma nestas manhãs de domingo de Inverno é mais lenta do que c.

E assim se esvai o dia, lentamente, sem se dar por ele. The Hours, Philip Glass...

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