1.6.20

Despedida

Começo por escrever sobre o medo, mas apago. Estou farto do vírus, das curvas, dos artigos brandidos como espadas. Escolhi ums hipótese que me parece a mais sólida,  a que mais perto está da realidade e da racionalidade e fico-me por aqui até alguém me demonstrar que essa hipótese é falsa. Com factos, argumentos, explicações convincentes e não com indicadores apontados como se fossem pistolas, desvalorizações académicas, opiniões políticas ou pulsações a dois mil. Nunca fui de emprenhar pelos ouvidos e não é agora que vou começar. Factos, números, argumentos e razão. Tudo o que fique fora desse quadrilátero fica fora de mim.

Não é muito complicado. Basta esperar. Mais tarde ou mais cedo a verdade saber-se-á e se estiver enganado reconhecê-lo-ei sem qualquer hesitação. Reivindico para mim o que penso ser um direito universal: o direito ao erro.

A pasta está fora do tubo. Querer metê-la lá dentro é tão útil como querer ressuscitar um amor que já morreu. Os dias de prisão em casa, os dias de trabalho perdidos, as horas de liberdade pelo cano não voltam. 

Não é uma questão de certezas. Sou o primeiro a dizer que posso estar enganado. É uma questão de racionalidade: a hipótese que escolhi pareceu-me - e ainda me parece - a mais racional. Comparei argumentos e apliquei o método popperiano. Até agora, tem resistido à prova da falibilidade. É simples, não é complicado: todas as hipóteses que sustentavam esta escolha estão a verificar-se: o vírus é menos mortal do que inicialmente se pensou; acabou na semana dezanove, ou vinte; se se organizarem as curvas dos contágios em função das datas e dos tipos de medidas tomadas pelos governos não se vê qualquer diferença entre eles (este foi o argumento que acabou por me convencer, mas isso agora é irrelevante). Isto são factos e são comprováveis. Basta querer. 

Quem não quiser e preferir manter-se naquilo que para mim é um erro tem todo o direito de o fazer. Ninguém é menos humano por não partilhar a minha opinião nem a minha atitude. E podem pensar que sou arrogante, desumano ou o que quiserem. Só não podem uma coisa: impedir-me de pensar e de dizer o que penso. Construir uma opinião dá trabalho, consome tempo, requer esforço. Não olhar para os factos também mas é - na minha opinião - menos profícuo. 

Se alguém me demonstrar que os meus factos - aquilo que agora me parecem factos - estão errados, eu recomeçarei o processo todo. Até lá, mantê-los-ei como factos, venha quem vier dizer-me o contrário. Se não acredito em Deus, não é fácil fazer-me crer em quem visivelmente não o é. 

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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.