25.7.20

O que aí vem

«Por conseguinte, presta muita atenção ao tempo, ao modo como o despendes, pois nada é mais precioso do que o tempo. Num só momento, por breve que seja, pode-se ganhar ou perder o Céu. Um sinal da preciosidade do tempo é este: Deus, que o administra, não concede dois momentos de cada vez, mas um após outro. E Deus faz isso, porque não quer inverter a ordem ou curso normal da causalidade na criação, pois o tempo existe para o homem, e não o homem para o tempo.»

Esta pérola (salvo dois ou três pormenores da tradução, como aquele «pode-se ganhar ou perder» em vez do para mim preferível «pode ganhar-se ou perder-se» e duas vírgulas dispensáveis) está num livro chamado "A nuvem do não-saber" (The cloud of unknowing) de um anónimo inglês do século XIV, editado pela Sistema Solar com a chancela Documenta. Ainda estou no princípio, mas pelos afagos que já lhe dei percebi que é a primeira de uma longa série de maravilhas. Foi-me recomendado pelo dono de uma livraria chamada Poesia Incompleta, a quem deixo aqui um modesto e sincero obrigado.

Há outra antes, ainda no prólogo: «Qunto aos tagarelas carnais, os bajuladores e os detractores de si mesmos ou dos outros, os mexeriqueiros, os linguareiros e os que espalham boatos, e ainda toda a espécie de críticos, nunca eu desejei que vissem este livro. É que nunca tive a intenção de escrever esta obra para indivíduos desse jaez.» Esta mesma precedida de uma outra, logo no segundo parágrafo.

Ir às raízes do nosso saber é provavelmente a única forma de enfrentar o que para aí vem.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.