11.12.20

Breve tratado das marés

Trata as marés por igual. Altas, baixas, vazias, vazantes ou enchentes, vivas ou mortas, são todas iguais - não passam de água em movimento - e merecem a atenção polida que acordas a tudo o mais. Uma piscina não tem marés porque é pequena, limitada, insignificante. As marés são para os grandes. Desconfia das que só sobem tanto quanto das que baixam sem parar. Nunca se sabe aonde te levarão, umas e outras. Pensa nelas com carinho: mesmo as que te são desfavoráveis mudarão em breve e ajudar-te-ão. Todas te fazem ver diferentes aspectos do dia ou da noite: as negras paredes do cais são outras, vistas de baixo ou de cima. Aproveita tudo de todas: a maior das contrariedades hoje pode ser a tua sorte de amanhã. Graças às marés aprendeste a nadar, a ver, aprendeste o tempo, a Lua, o Sol. Ama-as: sem elas pouco ou nada mais serias do que uma folha de vinha num tanque.

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