20.2.21

Badanal

A noite esteve de badanal. O prédio arfava, gritava e reclamava. Um bocado exagerado, parece-me. O vento já estava suficientemente forte para me fazer preferir estar em terra - quarenta nós é mais do que qualquer gajo quer ter na água - mas para um prédio não é assim tanto.

Lembrei-me de quando a minha Mãe nos fazia rezar pelos homens que estavam no mar. Era todos os dias, não apenas nos de temporal. Não me lembro da oração, mas lembro-me que tinha uma parte a suplicar a Virgem - creio que era ela a destinatário e não S. Nicolau - que protegesse do mau tempo quem andava no mar e que os trouxesse seguros de volta a casa. A coisa continuou mesmo depois de o meu Pai estar em terra, fazia parte das orações da noite. Era uma reza bonita e em noites assim lembro-me dela. 

O última que apanhei destas foi no Mediterrâneo, de Pereza para Port St.-Louis. Felizmente foi de popa. Passei um monte de horas ao leme, foi uma chatice porque entrámos numa zona de exercícios militares e veio um avião avisar-nos para sairmos dali, eu estava com um braço avariado... Dessa vez não me lembrei da oração. Só se pensa nisso quando se está cá fora, bem ao seco e quentinho. Quando se está na molhada, só se pensa é no que fazer para sair dali inteiro, os corpos e os bens.

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