27.7.21

Bradar

Um contrato que devia ter sido assinado há duas glaciações voltou a ser adiado. Pela primeira vez em muito tempo soltei meia dúzia de vitupérios e voltei a confirmar a opinião que tenho sobre a «culpa»: é muito mais fácil lidar com as contrariedades se lhes atribuirmos a «culpa» a alguém - que habitualmente não tem culpa nenhuma, claro. A fatalidade, o azar, o acaso - a nossa ansiedade, quando precisamos desesperadamente de qualquer coisa - são responsáveis pela maioria daquilo de que nós próprios não somos. É uma luta entre nós e o acaso na qual os «outros» têm um papel residual. A fúria esvai-se com o barulho de uma bóia a esvaziar-se. Quando acabar, volto para a cama e tento readquirir uma forma humana. Por enquanto, só me apetece bradar. Não sei é a quem.

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