29.7.21

Diário de Bordos - Palma, Mallorca, Baleares, Espanha, 29-07-2021

Um Negroni na Rambla. Gosto da Rambla de Palma - é um dos meus lugares favoritos - e nela da Ca na Chinchilla (idem). Gosto das árvores que, inclinadas para dentro, fazem uma nave que filtra o calor e a luz; gosto do pavimento, ligeiramente abaulado e numa pedra que a reflecte pouco, fica quase baça; gosto de ver as pessoas desfrutar de tudo isto - estou longe de ser o único, claro. Hoje vim à Ca na Chinchilla beber um Negroni. Não é cocktail que beba frequentemente e hoje precisei de mudar qualquer coisa. Como não posso mudar as grandes coisas, mudei uma das pequenas. É preciso ser pragmático, adaptarmo-nos às circunstâncias e acompanhar as mudanças regalando-nos com o que nos cerca. E, sobretudo, não perder tempo com guerras inúteis.

(Definição de guerra inútil: a que não se pode ganhar hoje.)

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Algumas mulheres andam de máscara na rua e «vestidas» com roupa que não lhes cobre nem um quarto do corpo (o jogo de palavras é imperceptível, espero). Tapam o que não precisam de tapar e não cobrem o que deviam cobrir. Enfim, não sei se «deviam» é o termo adequado. Talvez não seja.

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O P. vai para a água na segunda-feira. Com sorte estarei cá para o levar para o seu lugar. Este bote não me sai dos dias.

Nem eu dos dele, verdade seja dita. Vamos envelhecer juntos, aos pontapés, beijos, abraços e murros um ao outro.

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Dizem que enquanto há vida há esperança; penso que enquanto houver mulheres bonitas há vida, mas isso não me leva à conclusão lógica de que enquanto houver mulheres bonitas há esperança. A esperança é uma droga dura e as mulheres uma doce.

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Hoje estava no Olivar e pensei que vou para ali como outros vão passear para centros comerciais. Não fiquei orgulhoso, apesar de achar o mercado muito mais bonito do que qualquer centro comercial. Mas enfim, comi um polvo à galega que me fez  ter vontade de voltar à Galiza (não por estar mau, mas de tão bom que estava) e bebi o orujo que eles encomendaram para mim e nunca mais lá voltei e ainda há dias a Patrícia me gozou por causa disso. «O orujo é bom, não é?», perguntou-me. Não percebi nada, claro. «Encomendámos uma garrafa paravti e nunca mais cá voltaste», explicou ao ver o meu désarroi. E eu sem massa para orujos, que horror. A situação compôs-se, sem dúvida graças à intervenção divina (o deus sendo Mamon) e hoje lá fui cumprir as minhas obrigações contratuais. Vai ser um sarilho, acabar aquilo até me ir embora, mas um homem é um homem e um gato um bicho e de qualquer forma não tenho de acabar a garrafa, basta-me dar-lhe um entalhe que se veja, não é? É. Amanhã lá irei passear para o Olivar outra vez, que maçada.

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Entretanto, a Rambla anima-se e entre miúdas meio-despidas e outras meio-vestidas lá se vai compondo. A temperatura e a luz caem ao mesmo tempo (andam sempre juntas), o ruído do trânsito intensifica-se (daqui a pouco parará completamente, mas gosta de fazer um pequeno crescendo antes de se despedir) e eu chego ao fim dos disparates do dia. Foi um dia tranquilo, iluminado agora mesmo pelo olhar amoroso de uma mulher ao seu homem. Um dia precisa de poucas coisas para ser feliz.

Uma vida também, na verdade.

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No restaurante Gustar não há cá menus em inglês ou alemão. Há o Tom e o Fidel, uma cozinha sublime e uma das praças mais bonitas de Palma. O resto é conversa de encher chouriços. 

(Plaça del Banc de l'Oli.)

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