10.6.22

Diário de Bordos - Genebra, Suíça, 10-06-2022

1 (Por ordem cronológica) - A easyJet já não obriga os passageiros a usar máscara. Isso não impede a maioria deles de a levar posta. Foram bem amestrados, tal animaizinhos de circo. É por isso que as cartas fora do baralho, os peixes fora do aquário, os que não jogam em clubes, bandos, equipas, partidos, multidões são atacados em todo o lado: somos uma ameaça, como se na fila para saltar um aro em chamas um dos cãezinhos dissesse ao domador "Salta tu". Lá se iria o espectáculo por água abaixo.

Impossível não me lembrar daqueles palermas que agora em Palma esperam pelo sinal verde nas passadeiras. Devem tomar aquilo por um símbolo da "civilização". Se calhar é: ser incapaz de usar o próprio cérebro e os próprios olhos para ver se vem um carro e depender de um sinal que não tem nem um nem os outros é "civilizado". E não têm vergonha, ainda por cima, imbuídos que estão da sua "civilização".

2 - Chegada ao aeroporto. Passo o pormenor da rapidez com que as bagagens aparecem no carrossel e vou ao mais importante: ser esperado por uma filha que já é mãe, círculo que se fecha, ciclo novo, novo princípio. Quando o irmão (primeiro) e depois ela nasceu eu dizia que sempre gostara de jovens mães e que por isso tinha uma em casa.  Volta a ser verdade, só que agora não a tenho em casa, tenho-a no coração, na cabeça, na memória, no orgulho.

3 - Vejo um bocadinho das notícias ao meio-dia, com a S. Foi na Suíça que deixei de ver televisão e não estou perto de recomeçar, mas a diferença entre estes telejornais e os nossos quase seriam capazes de me pôr todos os dias à frente da espécie de piscina deitada que nesta casa faz as vezes de televisão. 

4 - S. foi jantar com amigas, ou colegas ou coisa que o valha. Passei a maior parte da tarde em casa sozinho. Em bónus, fiquei de guarda ao miúdo enquanto a L. ia não sei onde. Deve haver poucas maneiras melhores de iniciar esta estadia. Aproveitei para ouvir velhos LP de jazz, beber absinto do Val-de-Travers e dormir, que a noite foi curta.

O passeio no parque Bertrand com o puto no carrinho foi uma espécie de tremor de terra silencioso. Nenhuma das pessoas por quem passei se apercebeu do sismo com duas pernas e um chapéu que lhes passava ao lado.

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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.